Neste país pequeno, não era tão longe como isso, o Algarve. Todavia, além da pobreza indigente das pessoas distantes do poder, quer da realeza quer da república, as comunicações e os usos eram mantidos em áreas delimitadas e quase impermeáveis. Foi isso que lembrei ao fazer a comparação com os tempos de agora e olhando duas representações do passado, no Museu de Olhão.
Segundo o que li: sapatos de ourelo que foram usados até meados do século passado, feitos de tiras de tecido em várias cores, pelica, cabedal e pele de coelho. Tanto para as crianças como para os adultos. Em Olhão, cerca de 70 mulheres dedicavam-se a essa manufactura, presumo que caseira.
Outra peça de vestuário inesperada que as mulheres aqui usavam, era o Bioco, capa ou capote de tecido pesado, preto, que cobria quase completamente a cabeça e o rosto, mais o corpo todo até aos pés. Li informações interessantes sobre o seu uso e, mais tarde, sobre a sua proibição.
Penso em como ainda em tantas zonas do nosso mundo essa indumentária restritiva é obrigatória. Que sabemos nós dos critérios de usos e costumes das civilizações e doutrinas religiosas? O que é proibido, o que é aceite, o que é imposto?
Olhamos a superfície flutuante dos tempos e sempre queremos respostas. Que não existem.
Já de partida de um tempo mais solto que aqui passei, rendo-me às idiossincrasias da vida, a minha e a dos outros.
A mim persiste-me a ideia que muito se aprende olhando o passado: que fosse, pelo menos, uma lembrança, um aviso, para um futuro melhor. Melhor nas diferenças, melhor nas indiferenças.